leia-me
esquece o corpo que reveste
meus ossos
leia-me
olha o que minha boca diz e
o que meu olhar transpassa
sem seduzir-te
enxergue sedução nas obras feitas por minhas mãos
mas olha também meus calos
não me transforme em um caldeirão
de sopa em que podes alimentar-se
alimente o espírito em sintonia ao que ofereço como desfrute
leia-me
interprete-me
questione-me
transforme-me em uma incógnita
seria uma ofensa ser tão prática
toque a minha pele
sinta a energia que um corpo transporta ao outro
o sexo é só um detalhe
um bom detalhe
mas há muito mais que isso
posso oferecer muito mais
mas você pode ler-me?
tens a capacidade?
meu corpo minha carne minha casa
nua ou não
não lhe padece.
não lhe pertence.
não é tudo.
é um mundo.
e eu quero que leiam-me
que esqueçam a cor do meus olhos,
o formato do meu rosto
o desenho da minha boca
as curvas que percorrem
quero que esqueçam minha sexualidade
mas que lembrem que tudo que leem
vem de uma mulher.
quero que leiam-me porque é o melhor e mais sincero que tenho a oferecer de mim.